sábado, 28 de fevereiro de 2009

CANÇÃO DA IDADE


Até ontem havia luz em meus olhos
Sem eu saber
E porque não sabia
O nome que se dava àquilo.

Não conhecia a substância da cidade nômade
Nem que eram seus habitantes
A multidão colorida de um milhão de vozes

Não sabia reconhecer a fome de conhecer-se
Apenas a tinha.

O futuro era um fantasma
Os horizontes eram todos possíveis
As aventuras eram todas nossas.

“De onde você é?
Como se chama?”
A multidão repartiu-se em indivíduos
Moravam em endereços
Cursavam Faculdades
Tinham sobrenomes
Suas vozes tinham modismos próprios

Com todos os amigos compartilhava escassos minutos
De horas urgentes.
Estes minutos
Antevendo possibilidades mil
Duravam dias, com a intensidade de vidas
E ainda assim eram poucos.

Sem percebermos
Os amigos mudavam
Cresciam
Eu, sendo amigo de alguém,
Também cresci.

Os amigos, então, deixaram de vir
Surpreendo-me com notícias escassas
De fatos marcantes de suas vidas
Fotogramas de um movimento


Formaram-se
Conseguiram algum sucesso
Têm nomes nos jornais
Viajaram atrás de loucos amores
Foram-se para o estrangeiro
Estão sozinhos
Mudaram de área
Quem sabe o que lhes espera?

Aquele é um designer
O outro, um professor
Ela foi para o México
Tem um que virou doutor

Os nomes foram-se
A multidão reintegrou-se
Colorida como caleidoscópio
Um milhão de vozes.
Perdi meu nome, e faço de novo parte
Da multidão.

“De onde você vem?
Qual é o seu nome?”
Há luz em seus olhos
No íntimo secreto, conhecem
A alma da cidade nômade

Quem sabe o que me espera?
As aventuras são todas nossas.





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