sábado, 28 de fevereiro de 2009

ENTREVISTA COM DANIEL PAZ
[Daniel Paz é arquiteto, formado pela Universidade Federal da Bahia]

SOBRE O ENEA CURITIBA

Do ENEA Curitiba, lembro de episódios. (De todos os Encontros lembro episódios. Difícil achar que a vida é como um filme contínuo). A cena mais bonita talvez tenha sido a própria chegada. O gramado verde, o povo estirado à espera da entrega dos crachás. E, lá, os amigos com quem ia re-encontrando. Naquela época – e acho que todos têm sua época assim nos Encontros – eu tinha um prazer único em mal chegar e já sair buscando os conhecidos. Deixar as malas em qualquer canto e sair à cata de conhecidos (passando pelo constrangimento habitual de não se lembrar daonde conhecia aquela figura, e, claro, muito pior, nem mesmo seu nome).

Mas o gramadão era único. Um talude verde. Debaixo de araucárias. Um céu azul. Um solo que alumia, mas não queima (só no Sul isso acontece). E a pachorra do povo estirado ali. Rodinhas de amigos, mochilas ao lado, violões. Nossa roda de amigos, com bolachas e sucos de frutas.

Posso falar de jornadas com os amigos da Faculdade pela cidade. Curitiba foi um fechar de ciclo. Brincávamos que era o tempo havia se descarrilado e estávamos voltando para corrigi-lo. Porque reunimos uma trupe que tinha estado em Encontro pela última vez em 1997, no ENEA Porto Alegre. A meninice e a inexperiência daquele se complementava com a maturidade (e veteranice) deste. Os Encontros são formados pelos seus amigos – da Faculdade e de fora dela.

Um adendo: para quem vem da Bahia, a viagem é demorada. Mais de um par de dias. Dá para começar grandes amizades só nesse percurso. E começamos. Inclusive a que deu início ao namoro, noivado, e casamento de amigo que vai acontecer em breve. Algumas dessas figuras tornaram-se, por sua vez, o rosto dos meus Encontros seguintes; quando eles pararam de ir, eles perderam muito do seu charme.

Pela primeira vez, planejamos as fantasias da Festa à Fantasia e do ENEA Gay, que foi um barato. Meu Encontro começou quando compramos e preparamos as coisas, como se vê.

Meu ENEA Curitiba aconteceu também num churrasco, na casa de velha amiga, das primeiras amizades que construí indo a ENEAs, juntando uma velha guarda de amigos paranaenses e baianos. E outra velha guarda (em parte a mesma), em outro churrasco, também em uma casa de um curitibano.

Na época acreditava que a força do Encontro não vinha daquilo que achávamos que era o mais importante, mas desses momentos que sentíamos como episódios: a Viagem, a Chegada, momentos que dávamos o sentido da poesia e do sentimento, e sobretudo a Despedida e a Chegada. Por isso talvez tenha ficado mais sensível a isso. Para tentar capturar o intangível, punha-me a escrever poesias sobre o assunto num caderninho. Talvez por isso esse testemunho seja composto de episódios mais vivazes, e não de algum tipo de síntese.

Lembro também da “câmara de gás”: o nome que os estudantes da UFPR davam à Sala de Provas, um grande vão livre, com iluminação zenital, onde ficamos alojados. Conseguimos, com muito esforço, um cantinho para nossos amigos (de outros Encontros... pelo menos desde o ENEA Rio) da USP se abancarem. Do outro lado, o povo alegre da UFES (Espírito Santo). Esse povo de Sampa foi quem organizou depois a famosa Balada do Porão, que foi no Undergaund – uma sala enterrada que era parte do GAU, o Grêmio de Arquitetura e Urbanismo. Que encheu de gente quando aconteceu, e gerou tumulto no dia seguinte, porque fecharam o lugar – porque era perigoso realmente para a festinha. Mas o vão livre era ótimo: era frio (deixaram os sheds abertos lá em cima e esqueceram-se que o ar frio desce, e o ar gelado desce ainda mais rápido), era muito frio, era congelante, mas estava cheio de gente de tudo que é lado e era divertido como só pode ser quando se junta gente de cantos diferentes (o povo hoje tem perdido esse gosto porque é cada vez menos freqûente o vão livre... mas quando ele, por acidente, é usado... que explosão!). Lembro, e como poderia esquecer?

Lembro de Marcinho (ex-UFES, na época UFPR) tocando em um palquinho na entrada do evento clássicos do rock e a tendinha lotada em êxtase, cantando junto. Inesquecível.

Lembro de uma manhã com neblina, e nós filmando um termômetro apontanto -1ºC. Para uma trupe de baianos...

E lembro da volta. Do ônibus silencioso, os ânimos cansados, buscando algum tipo de regeneração de dez dias intensos (lembrem-se da viagem de ida), de algo que tem uma hora que se diz “chega”, para ruminar o tanto que aconteceu.

O meu ENEA Curitiba começou muitas semanas antes. Sua abertura foi quando nos reunimos, pela enésima vez, na frente do Boulevard 161 (aquele lugar, hoje, para mim, é sagrado – é meu porto para tantas viagens rumo à uma outra realidade). Aconteceu no campus da UFPR mas também ao redor de churrasqueiras pela cidade de Curitiba. E seu encerramento se deu quando nos despedimos, no mesmo lugar, cada um voltando para o seu canto.

Esse foi o meu ENEA Curitiba.



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